Esalq aponta que vale-alimentação pago aos servidores de Piracicaba não cobre custos da cesta básica
22/11/2025
(Foto: Reprodução) Carrinho de mercado
Walter Campanato/Agência Brasil
Um estudo realizado pelo Grupo Painel Econômico da Esalq/USP, a pedido do g1, apontou que o valor do vale-alimentação (VA) que será pago pela Prefeitura de Piracicaba (SP) aos servidores municipais no próximo ano está abaixo do custo estimado dos produtos que são distribuídos atualmente na cesta básica.
A gestão de Helinho Zanatta (PSD) enviou e colocou em vigor a lei que substitui a cesta básica por valor mensal de R$ 270.
O estudo da Esalq estimou que os itens da mesma quantidade e marcas da cesta básica custariam R$ 322,71 nos mercados de Piracicaba, em agosto de 2025. Outra análise do mesmo estudo chegou ao valor de R$ 379,97 – veja diferenças abaixo.
Já uma servidora ouvida pelo g1 afirmou que o VA de R$ 270 e os valores anunciados no estudo são insuficientes para comprar os mesmos itens diante da variação de preços e marcas entre os mercados, além do tempo, deslocamento e imprevisibilidade durantes as compras. Ela citou que a troca seria benéfica ao servidor se o valor se equiparasse aos disponibilizados por prefeituras da região - saiba mais abaixo.
📲 Siga o g1 Piracicaba no Instagram
Com a mudança, Piracicaba tem o vale-alimentação mais baixo para servidores públicos entre as 18 cidades de cobertura do g1. A prefeitura de Rio das Pedras (SP) lidara o ranking da região com um VA de R$ 1.350, seguida de Mombuca (SP) com R$ 1.150 e Nova Odessa (SP) com R$ 1.070.
O estudo
A prefeitura municipal informou ao g1 as marcas e quantidade dos 26 itens que compuseram a cesta em agosto de 2025. A lista incluiu produtos alimentares, de limpeza e higiene pessoal. Veja abaixo.
Cesta básica dos servidores municipais de Piracicaba em agosto de 2025
Os pesquisadores do Índice de Cesta Básica (ICB) de Piracicaba, indicador que monitora os preços de 17 itens essenciais na cidade ao longo dos meses, fizeram duas análises.
A primeira chegou ao valor de R$ 322,71, ou seja, R$ 52,71 a mais que o valor que será repassado aos servidores. Nessa análise, a equipe do ICB pesquisou os preços dos mesmos itens em sete supermercados e atacarejos de Piracicaba. Algumas marcas dos produtos listados não foram encontradas no varejo de Piracicaba e, por isso, foram usados os preços médios do mesmo produto com base no ICB.
A segunda análise deu R$ 379,97. Nesse valor, os pesquisadores utilizaram o preço médio de 17 produtos monitorados pelo ICB ao longo dos meses e acrescentaram a pesquisa de preços de agosto de 2025 dos produtos que não têm no ICB, mas que são distribuídos pela cesta da prefeitura.
Veja como votaram vereadores na aprovação de loteria, vale de R$ 270 e concessão do aeroporto em Piracicaba
Campus da Esalq, em Piracicaba
Carlos Alberto Coutinho
Considerações
O estudo avaliou a composição da cesta básica oferecida pelo poder público aos servidores como boa. Contudo, pontuou que existem alimentos na cesta que não são de consumo usual de muitas famílias, como alguns enlatados.
Além disso, o ressaltou-se que o recebimento de recursos financeiros permite aos servidores uma melhor escolha de alimentos e de onde os adquirir. No entanto, todas as análises de preços mostram que o custo de aquisição da cesta básica fica acima de R$ 300.
Já a servidora municipal Isabella Isnard considerou negativa a substituição da cesta básica pelo vale-alimentação no valor de R$ 270 e valores similares. Para ela, o novo valor deveria ser maior para compensar a troca, porque o benefício em dinheiro não cobre o custo dos itens básicos que compõem a cesta, exige esforço para fazer o valor render ao longo do mês e tira a previsibilidade.
“Todo mês eu sei que vou receber aqueles itens e consigo me programar melhor em cima disso. Se, de repente, estoura uma alta no arroz, uma alta no feijão e eu não vou garantir a mesma quantidade de comida por muito tempo”, disse.
Ela relatou que, mesmo realizando compras principalmente em supermercados atacadistas, percebe constante variação nos preços, o que dificultaria manter a quantidade de alimentos com o valor proposto.
Isabella também mencionou fatores práticos, como a indisponibilidade eventual de marcas ou produtos desejados e o tempo gasto no mercado, especialmente na semana em que o vale é depositado, quando os estabelecimentos ficam lotados e a compra completa pode levar horas. Além disso, ressaltou que nem sempre é possível encontrar todos os itens em um único lugar, o que aumenta o esforço necessário para alcançar o valor da cesta.
“Se o valor do VA fosse maior ou mais equiparado com os valores das cidades da região, eu preferiria receber o valor ao invés da cesta básica, porque daria para fazer compras mais complementares do que só o básico... ms teria que ser bem maior do que o preço da cesta básica em si. Colocaria R$600 para começar”, afirma a servidora municipal.
O que diz a prefeitura
Imagem aérea do prédio do Paço Municipal de Piracicaba
Prefeitura de Piracicaba
O g1 contatou a prefeitura de Piracicaba para entender se a administração pretende aumentar o valor do VA ou se encomendou algum estudo de mercado antes de propor mudança do benefício para R$ 270 mensais, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
Em agosto, a prefeitura havia informado ao g1 que uma comissão da administração pública com o Sindicato dos Trabalhadores Municipais debateu o assunto e houve a definição do vale-alimentação por R$ 270,00 mensais de acordo com as condições orçamentárias possíveis.
O PL ainda substituiu o “Programa Café da Manhã”, que oferece café aos servidores nos ambientes de trabalho, pelo vale-café da manhã de R$ 40 mensais.
Entenda projeto da prefeitura de Piracicaba que propõe troca de cesta básica por vale-alimentação de R$ 270
A metodologia
A estimativa dos 17 itens coletados pela equipe do Grupo Painel Econômico para análise da cesta básica usa a metodologia Procon Dieese. Nesta metodologia, são coletados preços em dez lojas de varejo e atacarejo de Piracicaba. Para cada item se coletam os preços das três marcas mais comuns nas prateleiras dos supermercados e atacarejos. Quando uma marca não é encontrada, é coletada a marca de menor preço.
Veja os vídeos que estão em alta no g1
VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e Região
Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
